quinta-feira, 30 de maio de 2013

The Atrocity Exhibition

Ballard é hoje considerado um dos maiores escritores ingleses do século XX. Naturalmente, no início da sua carriera encontrou resistência aos temas aparentemente obscenos que tentava retratar, mas a qualidade da sua escrita acabou por vir ao de cima.

The Atrocity Exhibition é um livro estranho - diferente, ainda que essa palavra hoje em dia já não queira dizer muito. É um livro em que na maioria do tempo não temos a certeza do que se está a passar e muito menos do que se vai passar a seguir, mas que ainda assim consegue criar um universo incrivelmente definido na nossa imaginação. Ao lermos Atrocity Exhibition podemos preencher os vazios na narrativa - a escrita é feita por parágrafos mais ou menos conexos, que só ao fim de algum tempo começam a fazer sentido. Ao ler sentimo-nos criativos, de certa forma.

É pop art bizarra. Como Warhol, Ballard interessava-se pela televisão, pelas revistas e pela cultura da celebridade. Mas não como Warhol, vê todas estas coisas com uma boa dose de obscenidade, vê-as distorcidas.

"Atrocity Exhibition" é um comentário criativo e subtil - pois não afirma tanto como simplesmente aponta - sobre os vícios da nossa sociedade de consumo. Encontra beleza e sentido na violência - os inúmeros acidentes de automóveis descritos são exemplo - de uma forma quase perigosa para o leitor, que não se deixa de sentir atraído. Inquietante, sem dúvida.

O autor chegou a sair do seu meio mais comum e a fazer em 1970 uma exposição de carros destruídos intitulada Crash. Viria a escrever um romance em 1974 baseado nesse tema e com o mesmo nome. A exposição suscitou emoções fortes por alguns visitantes, que chegaram a atacar as peças - uma ilustração perfeita daquilo que Ballard retrata nos seus livros.

Para além de "Atrocity Exhibition" esta edição inclui "The Smile", uma pequena short-story do autor, em que um homem se apaixona por uma boneca, um manequim ultra-realista. Mexe com as mesmas coisas que o Frankenstein de Mary Shelley ou os filmes de Tim Burton.

O livro inspirou inúmeros artistas, incluindo Ian Curtis dos Joy Division (têm uma música com o mesmo nome) ou Adolfo Luxúria Canibal dos Mão Morta.

Bienal De Veneza

Está a acontecer agora aquela que é considerada a mais importante, ou pelo menos uma das mais importantes feiras de arte no mundo: a Bienal de Veneza.

A feira já tem 118 anos e apresente todos os anos as obras daqueles que são as estrelas do mundo da arte atual, no mundo inteiro. Curiosamente, o Vaticano vai ter pela primeira vez este ano o seu stand independente.

A curadoria ficou a cargo do jovem  Massimiliano Giorgi, de 39 anos, que se diz ter trazido uma nova , menos académica abordagem à feira (bom artigo sobre ele no New York Times aqui).

Para além de ter obras contemporâneas, desempenhando assim o seu principal papel de descrever aquilo que se está a passar agora no mundo da arte, a feira terá também algumas obras mais datadas, como o art car BMW pintado por Andy Warhol ou “The Encyclopaedic Palace”, do futurista Marino Auriti, que dá o nome à feira. Segundo Giorgi, o nome representa exatamente aquilo que a feira admite não poder ser – uma reunião exaustiva do infinito e diverso mundo da arte de hoje.

O cacilheiro da Joana Vasconcelos lá está, o Trafaria Praia, e o interior a mim não me desapontou, apesar de não considerar a obra um destaque na feira.

Dêem uma vista de olhos em algumas das peças no incrível site Artsy.

Xu Zhen, Play
Kimsooja, To Breathe
Vasconcelos no seu Trafaria Praia

James Turrell

James Turrell é da opinião de que deveríamos valorizar a luz, tal como valorizamos outros objetos de beleza como quadros ou metais preciosos. E por isso faz no seu trabalho: mostra como a luz é suficiente para ser uma obra de arte, se nos apontarem a forma de olhar indicada. As usas peças podem ser pequenos espaços  construídos para que a luz ocupe neles um lugar de protagonismo, ou lugares, como o representado neste vídeo, em que somos simplesmente convidados a ter em atenção o papel que a luz toma na Natureza.