domingo, 31 de março de 2013

Prelúdio de Tristão e Isolda de Wagner


Não pode possivelmente haver palavras para descrever a beleza do prelúdio de Tristão e Isolda, de Wagner. Aliás, tenho sido da opinião que descrever a beleza de algo cuja beleza reside precisamente em algo que não é verbal, mas visual ou auditivo, é um exercício algo supérfluo.

Mas ainda que supérfluo, este bocado de música é tão inacreditável que me apeteceu escrever sobre ele.
Já o conhecia antes, mas reouvi-o agora no filme Melancholia, do Lars Von Trier. O filme em si merecia outra dissertação…incrivelmente belo, também.

É uma peça triste, como costumam ser as coisas mais bonitas. Tem o esplendor romântico típico deste período, do qual Wagner se tornou um marco caracterizante: os crescendos dos metais criam tensão, as cordas fluem entre clímaxes e repousos, os inevitáveis momentos de triunfo são muitas vezes mais negros do que se espera.

Escusado será dizer que a qualidade desta gravação não fará juz à obra, mas aqui deixo a introdução do Melancholia com a obra de Wagner, do YouTube. Beleza auditiva e visual. Vejam quando tiverem tempo para ver com calma, se alguma vez isso acontecer na internet…

segunda-feira, 18 de março de 2013

A Tempestade


A peça ‘A Tempestade’ do Teatro Praga esteve em cena no Grande auditório do CCB este fim-de-semana passado, 15 e 16 de Março.

O Teatro Praga é a contemporânea companhia de teatro lisboeta. Digo isto porque nos seus trabalhos há uma forte vontade de cristalizar o momento presente, o momento em que o espetáculo acontece. Usam tecnologia, envolvem o público, trazem as coisas quotidianas para o palco – uma mensagem de  iPhone, a música eletrónica dos mesmos DJs que nos fazem dançar ao fim-de-semana, as roupas da moda que vemos na rua. Particularmente nesta peça, esbate-se a diferença entre os bastidores e o palco, e entre os atores e o público – mal o espetáculo tinha começado já alguns espectadores viam as suas caras projetadas num ecrã gigante em cima do palco, por exemplo.

A Tempestade foi escrita por Shakespeare e composta numa semi-ópera por Purcell, no século XVII. Passa-se numa ilha, em que o protagonista Próspero conjura uma tempestade sobre o navio em que vai o seu irmão António, cujas más ações quer desmascarar, e o Rei de Nápoles, cúmplice do seu irmão. Depois de muitas peripécias a filha de Próspero, Miranda, acaba por se casar com o filho do Rei, para prazer do seu pai.

Na interpretação do Teatro Praga perdemo-nos no tempo. Deixamos desde cedo de saber o que já se passou e o que está para vir, quando é o fim, ou se há fim, ou se todos os fins que há são suposto serem a peça em si. É uma interpretação que não deixa de reconhecer a música original só por que a ouvimos a par com Madonna ou Michael Jackson. É cheia de humor e traz-nos para as nossas vidas a beleza e imaginação da arte de outros séculos. Faz-nos ver que as diferenças não são tantas quanto pensamos.


domingo, 17 de março de 2013

The Armory Show

A maior feira de arte nova-iorquina, o Armory Show, acabou a semana passada. Esteve aberta de 7 a 10 de Março, e este ano foi a centésima edição.

O primeiro Armory Show aconteceu em 1913. Foi organizado por uma associação de jovens artistas americanos que, sem qualquer apoio do estado, conseguiram recolher fundos e mover toda a gente necessária para que a exposição acontecesse. Incluiu obras como o Nu Azul e o Estúdio Vermelho de Matisse, e o Nu Descendo a Escada de Duchamp, que foi das peças mais consequentes. Foi uma revolução na cena artística da época e contribuiu para transfigurar a ideia clássica de arte e beleza.

Na altura o público era ainda susceptível a ser chocado. Hoje, o avant-garde é procurado e aceite, e nunca descartado e rejeitado. O gostar de arte e ser artista é quase indissociável de uma procura frenética pelo que é vanguardista, o que é novo, inesperado (chocante, se tal ainda fosse possível).

Notoriamente, o Larry Gagosian participou este ano, com alguns Warhols tardios e um papel de parede com motivos do artista. Curiosamente, já há stands de galeristas chineses, o que ilustra a cada vez maior procura pela arte do país.

O site Artsy.net ofereceu, antes da feira, a possiblidade de se fazer um preview das peças, e ainda agora se podem ver muitas delas – excelente para quem não pode ir!

Foi difícil, mas escolhi algumas das peças que mais me chamaram a atenção quando as vi online:


Oleg Dou, Sergei from 'Sketches' Series, 2008
Oleg Dou, MK2 from Mushroom Kingdom series, 2013
Zoè Gruni, Maloccio 6, 2011, Carvão s/ fotografia, 228.6 x 228.6cm

Simmons & Burke, Blue Clouds, 2012, 152.4 x 96.5cm
Simen Johan, Untitled #172, 2013, 221 x 185.4cm
Jason Martin, Salieri, 2011, óleo s/ alumínio, 215 x 190cm
Este artista belga, Wim Delvoye, faz uns porcos tatuados absolutamente fantásticos e diz que "toda a arte é inútil":
Wim Delvoye, Untitled, 2011, pneu trabalhado à mão.

Julie Cockburn, Forget-me-not, 2013, 24.8 x 20.3 cm
Stone Roberts, September, West 74th , 2000-01, Óleo s/ tela, 243.8 x 182.9cm

domingo, 3 de março de 2013

Duarte Amaral Netto


Duarte Amaral Netto teve obras na exposição de Janeiro de 2009 “O Presente. Uma Dimensão Infinita”. Passei a conhecê-lo porque vi uma fotografia dele no catálogo da exposição, a que não fui mas cujo catálogo comprei numa feira do livro no CCB.

Olhar para as suas fotografias é como ler um romance. Ou como ver um filme, mas só numa imagem. Adivinhamos a situação que envolve os personagens, que existem naquelas casas cheias de coisas. Casas cheias de coisas mas para as quais apetece olhar. O fotógrafo consegue tornar esteticamente agradáveis esses ambientes domésticos confusos…o que deveria ser familiar e quotidiano torna-se objeto de beleza.

As cenas nunca invocam sentimentos muito fortes, mas antes carregam uma espécie de tensão. Não sabemos o que é que se passou antes ou vai passar a seguir. Ou se sequer se se vai passar alguma coisa.

"Lisboa", 1999

A composição das imagens também indicia ficção... sentimos que houve de facto alguém a controlar aquilo que estamos a ver. O que não deixa de nos fazer sentir envolvidos pela situação representada.

Às vezes alguma coisa de errado se passa... Perguntamos o que é que está errado. Mas nunca percebemos, porque o que fica sempre é a apatia dos "personagens", que não nos deixa clara a situação. E provavelmente é isso que torna atraentes estas imagens, o facto de não nos dizerem o que mostram mas de se guardarem, de nos obrigarem a tentar descobri-las.

"Horóscopo", 2004

O artista nasceu em 1976, expõe regularmente e já foi galardoado com vários prémios. Tirou Comunicação Cultural na Católica e estudou fotografia no ar.co depois disso, em 2000. A colecção BESart tem várias fotografias suas.