domingo, 20 de janeiro de 2013

Babylon Revisited, de Scott Fitzgerald


Acabei de ler um pequeno livro da Penguin Readers com 3 contos do F. Scott Fitzgerald. O livro tem como título o nome do primeiro conto – Babylon Revisited.

Francis Scott Fitzgerald foi um autor americano tornado célebre no início dos anos 20. Diz-se que os seus livros oferecem um vívido retrato daqueles que foram os anos da boémia “Idade do Jazz”. Fitzgerald teve uma educação de classe média alta, com muitos privilégios, e andou em Princeton. No entanto, a sua insistência em viver da escrita também lhe valeu períodos financeiramente mais difíceis – chegou a reparar tetos de carros durante a escrita dos seus romances. Talvez tenha sido esse vislumbre do que poderia ser uma vida de riqueza material, das despreocupações dos ricos, que lhe tenha deixado a tendência para a retratar nas suas obras esse lado da sociedade.
F. Scott Fitzgerald

Babylon Revisited

Passa-se em Paris mas as personagens são americanas. É sobre um homem que enriqueceu no boom que precedeu a o crash de 1929. Nessa altura de prosperidade o protagonista levava uma vida de boémia em Paris com a sua mulher...metiam-se com pessoas malucas, outros boémios, também, e esbanjavam dinheiro por todos os pares e hotéis da cidade. Tiveram uma filha.

A mulher morreu de doença, depois de uma discussão que tiveram. Isto fez com que a cunhada do protagonista o culpasse da morte da sua irmã. O homem foi-se embora, deixando a filha com a cunhada, que a criou juntamente com os seus filhos.

A história descreve o retorno do protagonista a Paris e o seu desejo de voltar a aproximar-se da filha, ainda pequena, antes que seja tarde demais. Deseja levá-la para Praga, onde tem negócios prósperos, e onde restabeleceu uma vida estável. A filha, chamada Honorie, na sua inocência infantil fica contente com a ideia.
Há várias peripécias ao longo da história, das quais a mais notável é o reencontro de um casal amigo, antigos companheiros de boémia, e que, ao contrário do protagonista, não mudaram em nada e só lhe trazem problemas à sua vida agora refeita. São o objeto em que se materializam todos os seus sentimentos de arrependimento por ter deixado essa vida hedonista deixá-lo no estado em que está - viúvo, sem filha, e de certa forma sozinho no mundo.

Essa solidão reflete-se também na cidade: Fitzgerald estabelece um contraste entre a Paris vibrante dos tempos em que a bolha estava em crescimento no mercado, com os seus bares onde a bebida fluía e os risos não paravam, e a Paris pós-crash, vazia, mais comedida e rotineira. Mais sozinha, como vista pelos olhos do protagonista.

The Cut-Glass Bowl

A história trata dos Pipers, um casal rico - como toda a gente sempre é nas obras de Fitzgerald - , que aquando do seu casamento, receberam várias grandes taças de vidro trabalhado. As taças tornam-se veículos de várias desgraças que vão acontecendo ao casal...
A história começa numa altura em que Mr.Piper já perdoou a mulher por uma traição. Mas o primeiro episódio é precisamente um momento em que o antigo amante aparece inesperado em casa dos Pipers quando o marido está ausente. Mrs.Piper tenta pô-lo fora antes que o marido descubra, o que acaba por acontecer quando o amante tenta sair sem ser notado mas parte uma das taças, revelando a sua presença.

Depois disto seguem-se várias peripécias ao longo dos anos da família. Numa festa embebedam-se todos com ponche servido duma das taças e parcerias de negócios azedam, noutra ocasião a filha corta a mão numa das taças, tendo depois que ser amputada, e noutra ainda uma carta depositada numa das taças revela a obrigatoriedade do amado filho ir para a guerra. Desta última vez Mrs.Piper sabe imediatamente onde encontrar a temida carta, cujo recebimento lhe é anunciado por uma criada. É aqui que se apercebe do bizarro efeito das taças de vidro. Depois de ler essa última carta, a meio da noite e num esforço enorme, pega na última taça e tenta levá-la para a escadaria de pedra em frente da casa, para a partir. Acontece que neste esforço acaba por cair juntamente com a taça, sendo a derradeira desgraça a sua morte.

A história só toma o ritmo mais cativante e quase sobrenatural que mais me agradou quase a meio; até lá descreve de forma demasiado monótona a vida quotidiana da família e as relações entre os vários personagens. A festa do ponche, por exemplo, é um episódio que só se torna interessante quando se descobre que a filha está gravemente doente. Ainda assim algumas descrições têm comparações e imagens cativantes, bem ao estilo de Fitzgerald. Esta história destaca-se de certa forma do resto das obras do autor por não se dar num ambiente urbano ou tão boémio como o que se tornou mais característico do escritor. Talvez por isso não seja tão interessante, apesar de não deixar de ser uma boa leitura.

The Lost Decade

A terceira e última história é de longe a mais estranha...É muito curta. Trata de Orrison Brown, um empregado de escritório que fica encarregue de entreter um amigo do chefe durante a hora de almoço, na cidade de Nova Iorque. O amigo do chefe, chamado Trimble, age de forma muito estranha. Apesar de o chefe ter pedido para Orrison lhe apresentar a cidade, como se ele não a conhecesse, Trimble age como se tivesse sido uma figura importante há muito tempo. Durante toda a pequena história Trimble vai dizendo frase vagas e misteriosas, nunca se percebendo bem se o que ele diz é para ser levado literalmente ou como metáforas. A história tem um certo aspeto de reflexão sobra a passagem do tempo, o quão insignificante uma vida urbana pode ser, a ilusão de importância individual, qualquer coisa do género.

Em gerla, acho que falta às personagens de Fitzgerald um lado mais introspetivo... Como leitores, nunca conseguimos muito bem perceber o que vai dentro da cabeça das personagens, salvo alguns momentos. Suponho que é o estilo do autor, mas esta é uma característica de que costumo gostar, e que enriquece obras como O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.

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