sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

So Good They Can't Ignore You



Acabei agora de ler o livro 'So Good they can't ignore you'. É muito bom, e apesar de não estar excelentemente (esta palavra existe?) escrito, não está nada mau. Posso estar mal habituado, mas não se compara a um 4 Hour Work Week do Timothy Ferriss ou ao Thinking, Fast and Slow, do Kahneman, em termos da forma como cativa o leitor.

Já sigo o blog do autor há algum tempo, o Study Hacks, e apesar de por vezes não ser fácil seguir os raciocínios dele por serem pouco convencionais e nem sempre explicados em detalhe, se dermos o tempo necessário para nos habituarmos à sua forma de pensar há perspetivas valiosas a tirar do que ele escreve.
Divide o livro em quatro 'regras':

1. "Don't Follow Your Passion"  - sobre como toda a cultura de identificar uma paixão e segui-la profissionalmente é utópica e só leva a uma corrente de insatisfações profissionais;

2. "Be So Good They Can't Ignore You" - sobre como o segredo para a satisfação e obter controlo sobre a carreira é simplesmente ficar cada vez melhor, ao ponto de termos algo (habilidades) valioso que os outros queiram e pelo que estejam dispostos a pagar - aquilo a que chama "capital de carreira";

3. "Turn Down a Promotion" - sobre como obter controlo sobre o que se faz, como e quando se faz é chave para uma carreira em que as realizações pessoais sejam atingíveis - o que só é possível com o "capital de carreira" a que se refere a regra 2;

4. " Think Small, Act Big" - em que afirma que o elo que liga os pequenos passos de uma carreira é um sentido de missão. Um determinado objetivo a atingir com os esforços de carreira, que serve de fundo às decisões e que tem uma função motivante, de certa forma. Newport afirma que este missão não se decide, mas antes descobre-se ao longo da carreira.

As ideias do livro fazem todo o sentido. Basicamente, Newport apela a que se pare de proclamar a ideia de que as pessoas devem "seguir a sua paixão" e a que simplesmente se  dediquem a fazer aquilo que têm em mãos da melhor maneira possível, pois assumir que todos temos uma paixão bem definida desde cedo e realizável profissionalmente é uma utopia; e depois estabelece várias características para uma carreira bem-sucedida e satisfatória. É um incentivo ao trabalho, a que se pare de sonhar e divagar sobre empregos e ocupações mágicas, ideais, e que se faça por ser o melhor possível nas tarefas que se tem em mãos, deixando o resto vir mais ou menos naturalmente.

Ao longo do livro são expostas várias máximas que resumem sucintamente as mensagens dos capítulos. Algumas das minhas preferidas são "Do what people are willing to pay for" (faz coisas pelas quais as pessoas estejam dispostas a pagar), que reconheço ser uma eficaz e mesmo excelente maneira de ver aquilo que uma sociedade realmente valoriza, e que vai possibilitar um sustento; e "Working right trumps finding the right work" (trabalhar bem é melhor que procurar o trabalho ideal) - esta podia ser o resumo do livro numa frase, e representa uma ética de trabalho patente ao longo de todo o livro que considero admirável e valiosa. E certamente em falta em mim, em muitos da minha geração e eu diria mesmo em Portugal, se não no mundo ocidental...

Pode-se apontar, no entanto, que o autor nunca toma uma posição muito clara em relação ao quão diferentes podem ser as ideias que as pessoas têm de paixão, e sobre quando se deve ou não questionar as opções de carreira: Por um lado diz que não vale a pena estarmos constantemente a questionar-mo-nos sobre qual é a nossa verdadeira 'vocação', mas por outro fala de casos de pessoas que fizeram mudanças de carreira com sucesso, e identifica os passos tomados que ajudaram a atingir esse sucesso na mudança. Claro que as duas são compatíveis, mas penso que seria bom que o autor discorresse um pouco mais sobre quando vale ou não a pena questionar-mo-nos sobre se estamos a seguir o caminho certo.

Para primeiro livro, foi uma estreia impressionante. Excelentes ideias e audacioso no sentido de ir realmente contra aquilo que é o "culto da paixão" que tantas dúvidas existenciais causa a tanta gente, mas que é tão confortável de manter.

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