quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Nepenthe, de Julianna Barwick



Descobri a Julianna Barwick há muito pouco tempo, ao folhear a edição de Agosto da Wire. A forma como descreveram a sua música, a propósito do novo álbum, Nepenthe, captou-me a atenção e fui ouvir o seu anterior, o segundo longa-duração Magic Place.

Julianna Barwich foi criada numa pequena cidade americana, e é filha de um pastor. Conviveu desde cedo com órgãos e coros de igreja, onde aprendeu a cantar.

A sua música é algo incomum, que não se encontra muito, mas ainda assim provoca um sentimento de familiaridade…Odeio esta palavra, mas não consigo evitar dizer que é um bocado cinematográfica. Podia ser uma banda sonora de um filme, que incluísse paisagens de montanhas ou algo assim. Na faixa “Pyrrhic” sente-se isto mais do que nunca.

Julianna usa maioritariamente a voz, nos seus álbuns. Mas mais do que uma boa cantora ela tem uma excelente noção de design sonoro.  Cria paisagens sonoras peculiares mas muito belas.

Magic Place tem talvez um som menos claro, sentimo-la menos próxima do que neste Nepenthe, que inclui faixas como “One Half” em que a cantora se aproxima com uma voz mais clara e lúcida, com menos reverb.



Sem dúvida uma boa descoberta ealguém a manter debaixo de olho. Alguém que lhe peça para fazer uma banda sonora!

Deixo aqui uma boa performance no Guggenheim, onde se vê o seu uso da loopstation: 


domingo, 28 de julho de 2013

"Sob o Signo de Amadeo", no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian

Fui hoje ver a exposição ‘Sob o Signo de Amadeo’, do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian. Gostei de muitas das peças individualmente, mas em geral fiquei com a sensação de que faltava um fio condutor. O site explica, mas na exposição passa pouco. Pode ser falta de capacidade interpretativa da minha parte, mas às vezes um simples texto a explicar o objetivo da curadoria dá uma perspetiva a quem visita, o que pode valorizar a exposição. Esses textos acompanhavam as obras de Amadeo mas muito pouco as outras mais recentes.

Mas suponho que se quer deixar as obras falarem por si.

Individualmente, uma das peças de que mais gostei foi o vídeo Untitled (Nést finit plus), de JoãoOnofre. Conhecia algumas fotografias dele da coleção do Berardo, mas nada em vídeo. Este era excelente.

A parte com as obras de Amadeo (quase o espólio todo que a coleção possui) estava muito bem organizada. Não sou grande fã mas gostei particularmente d’Os Galgos e de uns 20 desenhos incluídos num livro que foi uma das primeiras obras da sua carreira.

Em geral a exposição não é extraordinária, especialmente para quem já conhece a coleção do CAM, mas vale a pena. Mais para o fim do ano há umas conversas com as curadoras e penso que algumas performances. Podem ver no site mais informações.







sábado, 27 de julho de 2013

WS, de Paul McCarthy

Inicialmente pensei que não seria muto relevante escrever sobre a exposição WS, do Paul McCarthy, porque não vi imagens que fossem representativas da exposição, que na verdade é só uma peça gigante. Mas ao pesquisar mais sobre ela, surgiu-me uma reflexão que decidi publicar aqui.

A peça pega no imaginário da Branca de Neve (WS são as iniciais de Snow White ao contrário), e distorce-o completamente, tornando tudo intensamente sexual, violento, e perturbador no todo. O artista diz que toda a peça está de certa forma relacionada com a sua história pessoal – um dos componentes da peça é uma réplica da sua casa de infância.

Escusado será dizer que eu adorava poder ir à exposição, que infelizmente está instalada em Nova Iorque.

Decidi deixar aqui uma nota um bocado melancólica, quase um queixume. 

É incrível, a dimensão da peça. Levou-me a pensar que algo do género em Portugal seria extremamente difícil, para não dizer impensável, de acontecer. Dedicar-se todos estes recursos a uma única peça de um único artista… Em Portugal, para tal acontecer o artista em questão teria de ser um já elevado a ícone nacional, completamente dentro do mainstream. Vem-me à mente a Joana Vasconcelos, que é das poucas que de facto consegue instalar as suas peças de grandes dimensões em espaços públicos. Mas ela não é comparável a um Paul McCarthy, que é muito mais subtil naquilo que comunica, muito mais irreverente e provocador, cedendo ao cliché… é muito popular nos EUA mas nunca atingiria grande escala em Portugal.

Infelizmente em Portugal, dada a reduzida dimensão da nossa economia, estas coisas acabam por não acontecer. Alocar os recursos necessários a este tipo de coisas acaba por não compensar, pois não há procura suficiente. E é isso que me leva por vezes a notar que de facto o mundo da arte em Portugal, em Lisboa, simplesmente não é nem nunca será tão excitante como é lá fora. Muitas coisas que lá fora são possíveis porque têm procura que as justifique, cá não são. WS de Paul McCarthy é um exemplo.

Aqui ficam dois vídeos da exposição. No Time-Lapse percebe-se bem a dimensão da peça.





Algumas imagens:


 




sábado, 13 de julho de 2013

Picasso Baby

O Jay-Z tem um álbum novo, o Magna Carta. Não sou de todo um expert em Hip-Hop, mas não me parece nada de extraordinário. Prefiro o Yeezus do Kanye West – as vozes captam mais atenção e a parte instrumental, quase completamente eletrónica no álbum do Kanye, soa-me melhor. É um álbum mais agressivo, no geral. Mas ainda assim Magna Carta também vale a pena.

O primeiro single vai ser o “Picasso Baby” e, talvez num esforço promocional, talvez num projeto spin-off do álbum, o Jay-Z fez uma das coisas mais bizarras que se passaram no mundo da arte recentemente – uma performance em que cantou a música durante seis horas na Pace Gallery, em Nova Iorque. O intuito era ser tudo filmado para o vídeo do single.

Segundo o rapper a performance foi inspirada na “The Artist is Present”, a já famosíssima peça da Marina Abramovic, a mais famosa artista de performance. A própria Marina esteve presente no evento do Jay-Z, e até há uns vídeos dos dois durante o evento.

As opiniões são díspares. Uns acham piada, outros rejeitam por completo considerar a peça arte. A meu ver isto parece um bocado ser uma tentativa de não deixar o rap, considerado baixa cultura, entrar no mundo elitista da arte. Mas quem é que quer saber disso? O mundo da arte, especialmente em Nova Iorque, alimenta-se cada vez mais das outras indústrias criativas e vice-versa. Talvez não tenha sido performance art pura, mas foi mais uma ligação entre o mundo da arte e a cultura mainstream, o que não é necessariamente mau.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

180 Creative Camp

Já vou um bocado tarde, mas continuo a querer falar no 180 Creative Camp. Só descobria a existência do festival este ano: É um festival organizado pelo canal 180 que reúne criativos de várias áreas – arquitetura, design, música, cinema, media - numa localidade portuguesa para promover a partilha das experiências dos artistas a estudantes e profissionais criativos ou qualquer interessado. E claro, há concertos e sessões de cinema de que qualquer pessoa pode desfrutar. Este ano é em Abrantes.

Antes de mais, gosto das escolhas de localização. A risco de soar condescendente, esta promoção de zonas do país que não sejam os típicos centros urbanos como Lisboa ou Porto é sempre boa. E os espaços usados – antigas piscinas, a barragem de Castelo de Bode -  oferecem um certo ambiente que se adequa perfeitamente às intervenções artísticas, e o ambiente do festival de certeza que se torna muito mais relaxado e colaborativo.

E claro, o conceito em si é incrível! Oferece um oportunidade única de partilha interdisciplinar que só pode ser enriquecedora para os artistas participantes.


Se estivesse lá, ia gostar de ver White Haus, Stereoboy, El Guincho, e o famoso pato de borracha gigante do Florentijn Hofman. 

domingo, 16 de junho de 2013

Curate Award

A Fundação Prada juntou-se à Autoridade dos Museus do Qatar para fundar o Curate Award. É uma iniciativa incrível - um prémio que dá a oportunidade a curadores do mundo inteiro, profissionais ou não, de verem as suas exposições de sonho realizadas, para além do reconhecimento que receberão com o prémio.

Há já uns anos que me interesso por curadoria. O papel do curador no mundo da arte tem vindo a crescer exponencialmente, e hoje em dia personagens como Hans Ulrich Obrist ou Klaus Biesenbach são super-estrelas da arte, ao nível dos maiores artistas, e considerados dos mais poderosos na indústria. Cada vez mais o curador é responsável por canalizar a arte para transformar a sociedade.

Como os promotores deste prémio reconhecem, todos somos curadores. Comunicamos algo com os objetos de que nos rodeamos, quer o façamos conscientemente ou não. O desafio deste prémio é criar uma exposição que seja cultural e socialmente relevante.


Deixo o vídeo de apresentação, que também está excelente (boa banda sonora!).

terça-feira, 11 de junho de 2013

Leão de Ouro para Tino Seghal

Tino Seghal ganhou o Leão de Ouro da Bienal de Veneza, que é como um Óscar (ou será mais um Nóbel?) do mundo da arte contemporânea. Os artistas que o recebem vêem as suas carreiras disparar e atingem um estatuto de estrelas que muitas vezes passa para o mainstream. Vencedores anteriores incluem Marina Abramovic e Jasper Johns.

Tino Seghal com o Leão de Ouro
A primeira vez que entrei em contacto com este artista foi quando entrei sem saber na sua peça "This Progress". Estava no Guggenheim de Nova Iorque, em 2010, e à medida que ia subindo a característica rampa do edifício, atores cada vez mais velhos iam-me acompanhando e fazendo perguntas de complexidade crescente. Foi diferente de tudo aquilo que conhecia na altura... Mais do que as perguntas da performance, observar os visitantes a participarem nela fez-me sentir que todos ali estávamos envolvidos com o museu e as peças, mais do que numa visita normal.

As suas obras atravessam constantemente as linhas entre a dança, o teatro e as artes visuais, mas para Seghal é óbvio que o seu lugar é no museu.

Na Bienal, Seghal apresentou uma performance com 3 pessoas a ajoelharem-se e a fazerem algo parecido com cantar e dançar ao mesmo tempo. Diz que o seu trabalho oferece um contraste com a postura omnipotente que o Homem pensava ter no séc.XX, e valoriza a efemeridade das suas obras, impossíveis de capturar e reproduzir totalmente, por serem ao vivo.

Este ano é também um dos preferidos ao prestigiado Turner Prize, pelas suas peças na Documenta 2012 e no Turbine Hall do Tate Modern.


quinta-feira, 30 de maio de 2013

The Atrocity Exhibition

Ballard é hoje considerado um dos maiores escritores ingleses do século XX. Naturalmente, no início da sua carriera encontrou resistência aos temas aparentemente obscenos que tentava retratar, mas a qualidade da sua escrita acabou por vir ao de cima.

The Atrocity Exhibition é um livro estranho - diferente, ainda que essa palavra hoje em dia já não queira dizer muito. É um livro em que na maioria do tempo não temos a certeza do que se está a passar e muito menos do que se vai passar a seguir, mas que ainda assim consegue criar um universo incrivelmente definido na nossa imaginação. Ao lermos Atrocity Exhibition podemos preencher os vazios na narrativa - a escrita é feita por parágrafos mais ou menos conexos, que só ao fim de algum tempo começam a fazer sentido. Ao ler sentimo-nos criativos, de certa forma.

É pop art bizarra. Como Warhol, Ballard interessava-se pela televisão, pelas revistas e pela cultura da celebridade. Mas não como Warhol, vê todas estas coisas com uma boa dose de obscenidade, vê-as distorcidas.

"Atrocity Exhibition" é um comentário criativo e subtil - pois não afirma tanto como simplesmente aponta - sobre os vícios da nossa sociedade de consumo. Encontra beleza e sentido na violência - os inúmeros acidentes de automóveis descritos são exemplo - de uma forma quase perigosa para o leitor, que não se deixa de sentir atraído. Inquietante, sem dúvida.

O autor chegou a sair do seu meio mais comum e a fazer em 1970 uma exposição de carros destruídos intitulada Crash. Viria a escrever um romance em 1974 baseado nesse tema e com o mesmo nome. A exposição suscitou emoções fortes por alguns visitantes, que chegaram a atacar as peças - uma ilustração perfeita daquilo que Ballard retrata nos seus livros.

Para além de "Atrocity Exhibition" esta edição inclui "The Smile", uma pequena short-story do autor, em que um homem se apaixona por uma boneca, um manequim ultra-realista. Mexe com as mesmas coisas que o Frankenstein de Mary Shelley ou os filmes de Tim Burton.

O livro inspirou inúmeros artistas, incluindo Ian Curtis dos Joy Division (têm uma música com o mesmo nome) ou Adolfo Luxúria Canibal dos Mão Morta.

Bienal De Veneza

Está a acontecer agora aquela que é considerada a mais importante, ou pelo menos uma das mais importantes feiras de arte no mundo: a Bienal de Veneza.

A feira já tem 118 anos e apresente todos os anos as obras daqueles que são as estrelas do mundo da arte atual, no mundo inteiro. Curiosamente, o Vaticano vai ter pela primeira vez este ano o seu stand independente.

A curadoria ficou a cargo do jovem  Massimiliano Giorgi, de 39 anos, que se diz ter trazido uma nova , menos académica abordagem à feira (bom artigo sobre ele no New York Times aqui).

Para além de ter obras contemporâneas, desempenhando assim o seu principal papel de descrever aquilo que se está a passar agora no mundo da arte, a feira terá também algumas obras mais datadas, como o art car BMW pintado por Andy Warhol ou “The Encyclopaedic Palace”, do futurista Marino Auriti, que dá o nome à feira. Segundo Giorgi, o nome representa exatamente aquilo que a feira admite não poder ser – uma reunião exaustiva do infinito e diverso mundo da arte de hoje.

O cacilheiro da Joana Vasconcelos lá está, o Trafaria Praia, e o interior a mim não me desapontou, apesar de não considerar a obra um destaque na feira.

Dêem uma vista de olhos em algumas das peças no incrível site Artsy.

Xu Zhen, Play
Kimsooja, To Breathe
Vasconcelos no seu Trafaria Praia

James Turrell

James Turrell é da opinião de que deveríamos valorizar a luz, tal como valorizamos outros objetos de beleza como quadros ou metais preciosos. E por isso faz no seu trabalho: mostra como a luz é suficiente para ser uma obra de arte, se nos apontarem a forma de olhar indicada. As usas peças podem ser pequenos espaços  construídos para que a luz ocupe neles um lugar de protagonismo, ou lugares, como o representado neste vídeo, em que somos simplesmente convidados a ter em atenção o papel que a luz toma na Natureza.


domingo, 31 de março de 2013

Prelúdio de Tristão e Isolda de Wagner


Não pode possivelmente haver palavras para descrever a beleza do prelúdio de Tristão e Isolda, de Wagner. Aliás, tenho sido da opinião que descrever a beleza de algo cuja beleza reside precisamente em algo que não é verbal, mas visual ou auditivo, é um exercício algo supérfluo.

Mas ainda que supérfluo, este bocado de música é tão inacreditável que me apeteceu escrever sobre ele.
Já o conhecia antes, mas reouvi-o agora no filme Melancholia, do Lars Von Trier. O filme em si merecia outra dissertação…incrivelmente belo, também.

É uma peça triste, como costumam ser as coisas mais bonitas. Tem o esplendor romântico típico deste período, do qual Wagner se tornou um marco caracterizante: os crescendos dos metais criam tensão, as cordas fluem entre clímaxes e repousos, os inevitáveis momentos de triunfo são muitas vezes mais negros do que se espera.

Escusado será dizer que a qualidade desta gravação não fará juz à obra, mas aqui deixo a introdução do Melancholia com a obra de Wagner, do YouTube. Beleza auditiva e visual. Vejam quando tiverem tempo para ver com calma, se alguma vez isso acontecer na internet…

segunda-feira, 18 de março de 2013

A Tempestade


A peça ‘A Tempestade’ do Teatro Praga esteve em cena no Grande auditório do CCB este fim-de-semana passado, 15 e 16 de Março.

O Teatro Praga é a contemporânea companhia de teatro lisboeta. Digo isto porque nos seus trabalhos há uma forte vontade de cristalizar o momento presente, o momento em que o espetáculo acontece. Usam tecnologia, envolvem o público, trazem as coisas quotidianas para o palco – uma mensagem de  iPhone, a música eletrónica dos mesmos DJs que nos fazem dançar ao fim-de-semana, as roupas da moda que vemos na rua. Particularmente nesta peça, esbate-se a diferença entre os bastidores e o palco, e entre os atores e o público – mal o espetáculo tinha começado já alguns espectadores viam as suas caras projetadas num ecrã gigante em cima do palco, por exemplo.

A Tempestade foi escrita por Shakespeare e composta numa semi-ópera por Purcell, no século XVII. Passa-se numa ilha, em que o protagonista Próspero conjura uma tempestade sobre o navio em que vai o seu irmão António, cujas más ações quer desmascarar, e o Rei de Nápoles, cúmplice do seu irmão. Depois de muitas peripécias a filha de Próspero, Miranda, acaba por se casar com o filho do Rei, para prazer do seu pai.

Na interpretação do Teatro Praga perdemo-nos no tempo. Deixamos desde cedo de saber o que já se passou e o que está para vir, quando é o fim, ou se há fim, ou se todos os fins que há são suposto serem a peça em si. É uma interpretação que não deixa de reconhecer a música original só por que a ouvimos a par com Madonna ou Michael Jackson. É cheia de humor e traz-nos para as nossas vidas a beleza e imaginação da arte de outros séculos. Faz-nos ver que as diferenças não são tantas quanto pensamos.


domingo, 17 de março de 2013

The Armory Show

A maior feira de arte nova-iorquina, o Armory Show, acabou a semana passada. Esteve aberta de 7 a 10 de Março, e este ano foi a centésima edição.

O primeiro Armory Show aconteceu em 1913. Foi organizado por uma associação de jovens artistas americanos que, sem qualquer apoio do estado, conseguiram recolher fundos e mover toda a gente necessária para que a exposição acontecesse. Incluiu obras como o Nu Azul e o Estúdio Vermelho de Matisse, e o Nu Descendo a Escada de Duchamp, que foi das peças mais consequentes. Foi uma revolução na cena artística da época e contribuiu para transfigurar a ideia clássica de arte e beleza.

Na altura o público era ainda susceptível a ser chocado. Hoje, o avant-garde é procurado e aceite, e nunca descartado e rejeitado. O gostar de arte e ser artista é quase indissociável de uma procura frenética pelo que é vanguardista, o que é novo, inesperado (chocante, se tal ainda fosse possível).

Notoriamente, o Larry Gagosian participou este ano, com alguns Warhols tardios e um papel de parede com motivos do artista. Curiosamente, já há stands de galeristas chineses, o que ilustra a cada vez maior procura pela arte do país.

O site Artsy.net ofereceu, antes da feira, a possiblidade de se fazer um preview das peças, e ainda agora se podem ver muitas delas – excelente para quem não pode ir!

Foi difícil, mas escolhi algumas das peças que mais me chamaram a atenção quando as vi online:


Oleg Dou, Sergei from 'Sketches' Series, 2008
Oleg Dou, MK2 from Mushroom Kingdom series, 2013
Zoè Gruni, Maloccio 6, 2011, Carvão s/ fotografia, 228.6 x 228.6cm

Simmons & Burke, Blue Clouds, 2012, 152.4 x 96.5cm
Simen Johan, Untitled #172, 2013, 221 x 185.4cm
Jason Martin, Salieri, 2011, óleo s/ alumínio, 215 x 190cm
Este artista belga, Wim Delvoye, faz uns porcos tatuados absolutamente fantásticos e diz que "toda a arte é inútil":
Wim Delvoye, Untitled, 2011, pneu trabalhado à mão.

Julie Cockburn, Forget-me-not, 2013, 24.8 x 20.3 cm
Stone Roberts, September, West 74th , 2000-01, Óleo s/ tela, 243.8 x 182.9cm

domingo, 3 de março de 2013

Duarte Amaral Netto


Duarte Amaral Netto teve obras na exposição de Janeiro de 2009 “O Presente. Uma Dimensão Infinita”. Passei a conhecê-lo porque vi uma fotografia dele no catálogo da exposição, a que não fui mas cujo catálogo comprei numa feira do livro no CCB.

Olhar para as suas fotografias é como ler um romance. Ou como ver um filme, mas só numa imagem. Adivinhamos a situação que envolve os personagens, que existem naquelas casas cheias de coisas. Casas cheias de coisas mas para as quais apetece olhar. O fotógrafo consegue tornar esteticamente agradáveis esses ambientes domésticos confusos…o que deveria ser familiar e quotidiano torna-se objeto de beleza.

As cenas nunca invocam sentimentos muito fortes, mas antes carregam uma espécie de tensão. Não sabemos o que é que se passou antes ou vai passar a seguir. Ou se sequer se se vai passar alguma coisa.

"Lisboa", 1999

A composição das imagens também indicia ficção... sentimos que houve de facto alguém a controlar aquilo que estamos a ver. O que não deixa de nos fazer sentir envolvidos pela situação representada.

Às vezes alguma coisa de errado se passa... Perguntamos o que é que está errado. Mas nunca percebemos, porque o que fica sempre é a apatia dos "personagens", que não nos deixa clara a situação. E provavelmente é isso que torna atraentes estas imagens, o facto de não nos dizerem o que mostram mas de se guardarem, de nos obrigarem a tentar descobri-las.

"Horóscopo", 2004

O artista nasceu em 1976, expõe regularmente e já foi galardoado com vários prémios. Tirou Comunicação Cultural na Católica e estudou fotografia no ar.co depois disso, em 2000. A colecção BESart tem várias fotografias suas.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Spotify


Estou bastante obcecado com o Spotify, recentemente chegado a Portugal. É incrível. Trata-se de um software para ouvir música, posto de uma forma muito limitativa. É como uma base de dados em que o utilizador pode pesquisar música por artista, álbum, etc.

Por si só isto já seria extraordinário. Sim, é verdade que no Youtube já temos isto, mas no Spotify está tudo perfeitamente organizado cronologicamente por álbum, os artistas vêm acompanhados de uma biografia, e há ligações a artistas semelhantes, o que facilita a descoberta de música nova. Nem falar da qualidade de som muito superior à do Youtube.

Mas para além disto o Spotify tem ainda uma componente social: podemos aceder com a nossa conta do Facebook e ver o que os nossos amigos estão a ouvir, podemos publicar playlists e ouvir as playlists dos nossos amigos nos perfis deles, podemos enviar faixas para os nossos amigos ouvirem.  
Sim, eu também pensei logo que isto podia ser privacidade a menos: e se me apetecer ouvir a Lady Gaga sem que ninguém saiba? A resposta: podemos iniciar uma “sessão privada” para que os nosso guilty pleasures permaneçam desconhecidos.

Para alem das que referi há ainda muito mais ‘features’ que vão adicionando valor ao serviço.

Há uma contrapartida que considero pequena: na versão gratuita as músicas são intercaladas com anúncios e o software também tem uns banners. Há as versões ‘Unlimited’ a  €3.49/mês, sem anúncios, e a ‘Premium’ por €6.99/mês, que acrescenta a possibilidade de ouvir Spotify em dispositvos móveis – iPads e etc.

Cada vez mais acho que o futuro da cultura passa por isto: as pessoas já não querem possuir quando para consumir isso é desnecessário. Porquê comprar CDs de que me vou fartar daqui a uns meses e deixá-los a ocupar espaço, quando posso ter (quase) toda a música de que me lembre no meu telemóvel (e ligá-lo às colunas da aparelhagem, se quiser ouvir alto), que levo sempre para todo o lado?

O mesmo se está a passar com os Kindles,  o DJing digital, etc… Podemos ser ultra-seletivos na cultura que consumimos, pois esta está cada vez mais disponível. E se me perguntam a mim, isso incentiva as pessoas a cultivarem os seus gostos pessoais – e a partilharem-nos – o que só pode ser bom.




terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Gordon's Gin


Tenho um livro que em cada página mostra uma imagem de uma peça de arte, maioritariamente quadros, e uma pequena descrição ou interpretação desta.

Vi esta imagem lá ontem:

Richard Estes, Gordon's Gin, 1968, Óleo s/ cartão

Primeiro senti-me sufocado. Os anúncios não me largavam e não me deixavam ver a cidade. Mas depois pensei em como é esta a realidade. Fazemos isto às nossas cidades e às nossas casas. Queremos que assim seja.

E é por isso que este quadro é bonito. Não foge para um ideal estético inexistente nas nossas vidas. Mostra-nos que podemos aceitar a realidade e reconhecer-lhe a beleza – provavelmente seremos muito mais contentes assim.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Babylon Revisited, de Scott Fitzgerald


Acabei de ler um pequeno livro da Penguin Readers com 3 contos do F. Scott Fitzgerald. O livro tem como título o nome do primeiro conto – Babylon Revisited.

Francis Scott Fitzgerald foi um autor americano tornado célebre no início dos anos 20. Diz-se que os seus livros oferecem um vívido retrato daqueles que foram os anos da boémia “Idade do Jazz”. Fitzgerald teve uma educação de classe média alta, com muitos privilégios, e andou em Princeton. No entanto, a sua insistência em viver da escrita também lhe valeu períodos financeiramente mais difíceis – chegou a reparar tetos de carros durante a escrita dos seus romances. Talvez tenha sido esse vislumbre do que poderia ser uma vida de riqueza material, das despreocupações dos ricos, que lhe tenha deixado a tendência para a retratar nas suas obras esse lado da sociedade.
F. Scott Fitzgerald

Babylon Revisited

Passa-se em Paris mas as personagens são americanas. É sobre um homem que enriqueceu no boom que precedeu a o crash de 1929. Nessa altura de prosperidade o protagonista levava uma vida de boémia em Paris com a sua mulher...metiam-se com pessoas malucas, outros boémios, também, e esbanjavam dinheiro por todos os pares e hotéis da cidade. Tiveram uma filha.

A mulher morreu de doença, depois de uma discussão que tiveram. Isto fez com que a cunhada do protagonista o culpasse da morte da sua irmã. O homem foi-se embora, deixando a filha com a cunhada, que a criou juntamente com os seus filhos.

A história descreve o retorno do protagonista a Paris e o seu desejo de voltar a aproximar-se da filha, ainda pequena, antes que seja tarde demais. Deseja levá-la para Praga, onde tem negócios prósperos, e onde restabeleceu uma vida estável. A filha, chamada Honorie, na sua inocência infantil fica contente com a ideia.
Há várias peripécias ao longo da história, das quais a mais notável é o reencontro de um casal amigo, antigos companheiros de boémia, e que, ao contrário do protagonista, não mudaram em nada e só lhe trazem problemas à sua vida agora refeita. São o objeto em que se materializam todos os seus sentimentos de arrependimento por ter deixado essa vida hedonista deixá-lo no estado em que está - viúvo, sem filha, e de certa forma sozinho no mundo.

Essa solidão reflete-se também na cidade: Fitzgerald estabelece um contraste entre a Paris vibrante dos tempos em que a bolha estava em crescimento no mercado, com os seus bares onde a bebida fluía e os risos não paravam, e a Paris pós-crash, vazia, mais comedida e rotineira. Mais sozinha, como vista pelos olhos do protagonista.

The Cut-Glass Bowl

A história trata dos Pipers, um casal rico - como toda a gente sempre é nas obras de Fitzgerald - , que aquando do seu casamento, receberam várias grandes taças de vidro trabalhado. As taças tornam-se veículos de várias desgraças que vão acontecendo ao casal...
A história começa numa altura em que Mr.Piper já perdoou a mulher por uma traição. Mas o primeiro episódio é precisamente um momento em que o antigo amante aparece inesperado em casa dos Pipers quando o marido está ausente. Mrs.Piper tenta pô-lo fora antes que o marido descubra, o que acaba por acontecer quando o amante tenta sair sem ser notado mas parte uma das taças, revelando a sua presença.

Depois disto seguem-se várias peripécias ao longo dos anos da família. Numa festa embebedam-se todos com ponche servido duma das taças e parcerias de negócios azedam, noutra ocasião a filha corta a mão numa das taças, tendo depois que ser amputada, e noutra ainda uma carta depositada numa das taças revela a obrigatoriedade do amado filho ir para a guerra. Desta última vez Mrs.Piper sabe imediatamente onde encontrar a temida carta, cujo recebimento lhe é anunciado por uma criada. É aqui que se apercebe do bizarro efeito das taças de vidro. Depois de ler essa última carta, a meio da noite e num esforço enorme, pega na última taça e tenta levá-la para a escadaria de pedra em frente da casa, para a partir. Acontece que neste esforço acaba por cair juntamente com a taça, sendo a derradeira desgraça a sua morte.

A história só toma o ritmo mais cativante e quase sobrenatural que mais me agradou quase a meio; até lá descreve de forma demasiado monótona a vida quotidiana da família e as relações entre os vários personagens. A festa do ponche, por exemplo, é um episódio que só se torna interessante quando se descobre que a filha está gravemente doente. Ainda assim algumas descrições têm comparações e imagens cativantes, bem ao estilo de Fitzgerald. Esta história destaca-se de certa forma do resto das obras do autor por não se dar num ambiente urbano ou tão boémio como o que se tornou mais característico do escritor. Talvez por isso não seja tão interessante, apesar de não deixar de ser uma boa leitura.

The Lost Decade

A terceira e última história é de longe a mais estranha...É muito curta. Trata de Orrison Brown, um empregado de escritório que fica encarregue de entreter um amigo do chefe durante a hora de almoço, na cidade de Nova Iorque. O amigo do chefe, chamado Trimble, age de forma muito estranha. Apesar de o chefe ter pedido para Orrison lhe apresentar a cidade, como se ele não a conhecesse, Trimble age como se tivesse sido uma figura importante há muito tempo. Durante toda a pequena história Trimble vai dizendo frase vagas e misteriosas, nunca se percebendo bem se o que ele diz é para ser levado literalmente ou como metáforas. A história tem um certo aspeto de reflexão sobra a passagem do tempo, o quão insignificante uma vida urbana pode ser, a ilusão de importância individual, qualquer coisa do género.

Em gerla, acho que falta às personagens de Fitzgerald um lado mais introspetivo... Como leitores, nunca conseguimos muito bem perceber o que vai dentro da cabeça das personagens, salvo alguns momentos. Suponho que é o estilo do autor, mas esta é uma característica de que costumo gostar, e que enriquece obras como O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

So Good They Can't Ignore You



Acabei agora de ler o livro 'So Good they can't ignore you'. É muito bom, e apesar de não estar excelentemente (esta palavra existe?) escrito, não está nada mau. Posso estar mal habituado, mas não se compara a um 4 Hour Work Week do Timothy Ferriss ou ao Thinking, Fast and Slow, do Kahneman, em termos da forma como cativa o leitor.

Já sigo o blog do autor há algum tempo, o Study Hacks, e apesar de por vezes não ser fácil seguir os raciocínios dele por serem pouco convencionais e nem sempre explicados em detalhe, se dermos o tempo necessário para nos habituarmos à sua forma de pensar há perspetivas valiosas a tirar do que ele escreve.
Divide o livro em quatro 'regras':

1. "Don't Follow Your Passion"  - sobre como toda a cultura de identificar uma paixão e segui-la profissionalmente é utópica e só leva a uma corrente de insatisfações profissionais;

2. "Be So Good They Can't Ignore You" - sobre como o segredo para a satisfação e obter controlo sobre a carreira é simplesmente ficar cada vez melhor, ao ponto de termos algo (habilidades) valioso que os outros queiram e pelo que estejam dispostos a pagar - aquilo a que chama "capital de carreira";

3. "Turn Down a Promotion" - sobre como obter controlo sobre o que se faz, como e quando se faz é chave para uma carreira em que as realizações pessoais sejam atingíveis - o que só é possível com o "capital de carreira" a que se refere a regra 2;

4. " Think Small, Act Big" - em que afirma que o elo que liga os pequenos passos de uma carreira é um sentido de missão. Um determinado objetivo a atingir com os esforços de carreira, que serve de fundo às decisões e que tem uma função motivante, de certa forma. Newport afirma que este missão não se decide, mas antes descobre-se ao longo da carreira.

As ideias do livro fazem todo o sentido. Basicamente, Newport apela a que se pare de proclamar a ideia de que as pessoas devem "seguir a sua paixão" e a que simplesmente se  dediquem a fazer aquilo que têm em mãos da melhor maneira possível, pois assumir que todos temos uma paixão bem definida desde cedo e realizável profissionalmente é uma utopia; e depois estabelece várias características para uma carreira bem-sucedida e satisfatória. É um incentivo ao trabalho, a que se pare de sonhar e divagar sobre empregos e ocupações mágicas, ideais, e que se faça por ser o melhor possível nas tarefas que se tem em mãos, deixando o resto vir mais ou menos naturalmente.

Ao longo do livro são expostas várias máximas que resumem sucintamente as mensagens dos capítulos. Algumas das minhas preferidas são "Do what people are willing to pay for" (faz coisas pelas quais as pessoas estejam dispostas a pagar), que reconheço ser uma eficaz e mesmo excelente maneira de ver aquilo que uma sociedade realmente valoriza, e que vai possibilitar um sustento; e "Working right trumps finding the right work" (trabalhar bem é melhor que procurar o trabalho ideal) - esta podia ser o resumo do livro numa frase, e representa uma ética de trabalho patente ao longo de todo o livro que considero admirável e valiosa. E certamente em falta em mim, em muitos da minha geração e eu diria mesmo em Portugal, se não no mundo ocidental...

Pode-se apontar, no entanto, que o autor nunca toma uma posição muito clara em relação ao quão diferentes podem ser as ideias que as pessoas têm de paixão, e sobre quando se deve ou não questionar as opções de carreira: Por um lado diz que não vale a pena estarmos constantemente a questionar-mo-nos sobre qual é a nossa verdadeira 'vocação', mas por outro fala de casos de pessoas que fizeram mudanças de carreira com sucesso, e identifica os passos tomados que ajudaram a atingir esse sucesso na mudança. Claro que as duas são compatíveis, mas penso que seria bom que o autor discorresse um pouco mais sobre quando vale ou não a pena questionar-mo-nos sobre se estamos a seguir o caminho certo.

Para primeiro livro, foi uma estreia impressionante. Excelentes ideias e audacioso no sentido de ir realmente contra aquilo que é o "culto da paixão" que tantas dúvidas existenciais causa a tanta gente, mas que é tão confortável de manter.

'Riso', no Museu da Eletricidade


A exposição está patente até dia 17 de Março e é grátis. O Museu fecha às segundas.

Achei-a boa mas nada de extraordinário. No geral é confusa e as peças são tão díspares - tem pintura, excertos de música, séries televisivas, instalações, esculturas...- que a ligação entre elas se perde um bocado.

É suposto a exposição documentar o humor na arte e na cultura popular, portuguesa e não só. Está organizada por secções temáticas, como política, sexo, vida familiar, etc.

A primeira coisa em que reparei foi a estrutura em que a exposição está montada, que só por si cria um efeito estético notável, atraente. É uma estrutura muito alta, simples, de madeira clara, que  no espaço negativo entre as traves forma cubos. As peças estão penduradas nessas traves e as pessoas circulam pelo percurso formado pela estrutura.

Há peças de Eduardo Batarda, Joana Vasconcelos, Paula Rego, umas polaroids de Warhol e algumas outras peças da Coleção Berardo e da coleção BES Photo. Agora que penso nisso, não cheguei a reparar no Jeff Koons, para ser sincero...
'Passerelle', Joana Vasconcelos

O que mais me marcou foram as ilustrações de 'Nursery Rhymes' (lenga-lengas, em português?) da Paula Rego . Têm uma qualidade bizarra, obscura, ainda mais que as telas dela, talvez por estes serem desenhos a tinta-da-china e portanto em cores escuras. Existe um livro editado com as ilustrações e as respetivas rimas, que também se pode ver no fim da exposição, e que eu gostei muito. Fez-me lembrar o livro de poemas ilustrados do Tim Burton, "The Melancholy Death of Oyster Boy and Other Stories". Tem o mesmo tipo de humor-negro, um pouco sádico. Excelente, o livro.

Mais uma vez, notei que na exposição há pouca ligação entre as peças...Não há coerência estética. Tanto vemos uma escultura completamente pop, "in-your-face", de cores berrantes, como logo a seguir vemos umas ilustrações de Rafael Bordalo Pinheiro do século XIX. Sim, o elemento comum é o humor, mas esteticamente é tudo demasiado díspar, parece-me. E devo dizer que o humor presente por exemplo numa Joana Vasconcelos está longe de ser o mesmo que o presente nas ilustrações da Paula Rego. É que não tem mesmo nada a ver.

'Goosey Goosey Gander', Paula Rego
E sinceramente não vejo o propósito de ir a uma exposição e ver um monte de televisões a passarem sitcoms americanas que posso ficar em casa para ver... O facto de estarem no contexto do museu releva o humor presente na comédia da cultura pop contemporânea, comparando-o ao humor que se tem feito em portugal nas últimas décadas, e põe-no num contexto histórico-social que pode ser relevante para compreender o tipo de humor presente nas outras peças? Qualquer coisa assim? Não? Estou a pensar demais? Ok, são só mesmo televisões a passar a 1ª temporada de Modern Family. Ok, obrigado.

Bom esforço, bem montada, mas gostava de ter visto uma coisa mais coesa em termos estéticos e com uma sequência temporal mais bem definida.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Melhorar: a prática diária


Para melhorar em alguma coisa temos de a fazer. Acho que não há grande ciência por trás disto… O problema muitas vezes é passar à ação: fazê-lo mesmo! Parar de dar desculpas do género “não tenho tempo” ou “não tenho dinheiro para aulas ou equipamentos” ou ainda “não tenho jeito” e fazer. Parar de pensar e fazer. É mais uma questão de horas que de outra coisa qualquer, mas claro que nem toda a quantidade tem a mesma qualidade… Se passarmos horas a fazer alguma coisa que nos é difícil e desafiante, que nos tira fora da nossa zona de conforto, é natural que melhoremos muito mais do que se ficarmos sempre a fazer aquilo que já nos é confortável e familiar. Acho que a analogia com os músculo é sempre excelente: Os nossos músculos só crescem com dor. Literalmente, temos de os destruir, com esforço, para que eles depois se possam reconstruir, mais fortes e maiores. E isto não é confortável… Confortável seria continuar sempre a levantar o mesmo peso de 5kg, enquanto olhamos para o ‘Jersey Shore’ na televisão do ginásio distraídamente. Mas assim não estaríamos a construir nada.

E depois há a mestria. O ponto em que somos especialistas numa área qualquer. Acho que já é famosa a regra das 10 000 horas de prática deliberada – deliberada no sentido em que se pratica com o objetivo explícito de melhorar - que são precisas para ser ser extraordinário num campo qualquer, afirmada pelo autor Malcolm Gladwell no seu livro Outliers. Se por um lado é desencorajador pensar que precisamos de tanto tempo, pode também ser libertador, de certa forma: a regra, confirmada centenas de vezes pelo autor em inúmeros exemplos e por tantas outras pessoas, basicamente afirma que toda a gente pode ser boa em tudo! Basta dedicar as horas necessárias…

Parece-me que a melhor maneira para aumentar a contagem de horas postas numa habilidade, e na verdade a melhor maneira de construir o que quer que seja, é de uma forma contínua, ainda que lenta. Pôr 10 minutos todos os dias bate pôr uma hora por semana. Praticar diariamente. O comediante Jerry Seinfeld tinha uma técnica fenomenal para se ajudar a si próprio a escrever piadas todos os dias – tinha um calendário para o ano todo, bem grande, na parede do quarto, e um marcador encarnado ao lado. Todos os dias em que escrevesse piadas fazia uma cruz no calendário. Ao fim de alguns dias sem quebrar a corrente, começava a perceber que gostava da corrente, e que não a queria quebrar – que se sentia motivado a continuar, todos os dias, a escrever piadas. Esta técnica pode ser aplicada a praticamente tudo, parece-me. Um bocado todos os dias transforma-se num avanço significativo rapidamente…

Na net há cada vez mais recursos direcionados para isto. Há apps de iPhone e aplicações online em que podemos registar os nossos pequenos avanços nos objetivos que escolhermos, há sites dedicados a determinadas habilidades que nos incentivam à prática diária e a não quebrar a “corrente”. Tenho andado a experimentar uns: Recentemente descobri que até gosto de escrever, ajuda-me a processar os pensamentos e é, de várias formas, um ato criativo. Descobri há dias o site 750words.com. Todos os dias o site dá-nos uma meia cruz se escrevermos alguma coisa, e uma cruz completa se escrevermos 750 palavras ou mais. Não sei porquê, mas foi este o número que o fundador do site, um informático de Seattle, escolheu. É completamente gratuito. Irracionalmente, sinto-me motivado pelas cruzinhas e pela mensagem de parabéns que aparece quando se passam as 750 palavras, um pouco como o Seinfeld.

Também há já montes de tempo que gostava de aprender a programar, e comecei a usar o incrível codeacademy.com, que é na mesma base: oferece pequenos cursos criados por informáticos experientes e incentiva-nos a praticar diariamente, por muito pouco que seja, e dá-nos pequenas mensagens de parabéns e de motivação. Estes sites são também uma espécie de rede social em que podemos partilhar os nossos progressos, o que confere à empreitada uma dimensão social que acho muito motivante.

O site The DailyPractice, tdp.me, oferece um sistema mais geral para seguir os nossos esforços diários nos objetivos em que nos propomos evoluir. O criador é um blogger que diz que o segredo da felicidade é a saúde em quatro pilares: físico, mental, espiritual e emocional, e então recomenda que se tenham práticas diárias nesses quatro campos, mas não é obrigatório. A ideia é a pessoa querer ver os pequenos balõezinhos coloridos a preencher os campos que no início de cada dia estão vazios, e então fazer progressos.

Hoje em dia há cada vez mais recursos que nos podem ajudar naquilo que queremos fazer, mas que consomem tempo. No fim do dia, podemos ter o mais perfeito sistema de incentivos, mas o mais importante vai ser sempre o mesmo – parar de pensar e agir.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Freedom

Acabei de ler o ‘Freedom’ do Jonathan Franzen. Não costumo ler muitos romances contemporâneos, leio mais clássicos. É mais seguro, porque já passaram o teste do tempo…ao pegar num contemporâneo nunca se sabe se é realmente bom ou se é um fenómeno de massas de merda, de que o mundo parece estar pejado ultimamente. Sim, isto soou pedante, mas temo que seja mesmo verdade.

Mas não me arrependi. Quando o comecei a ler precisava mesmo de algo leve, para me distrair dos stresses da faculdade e da vida em geral. ‘Freedom’ é inteligentemente escrito sem deixar de ser um livro que não faz pensar muito. As páginas já não me passavam assim tão rápido desde os livros que lia em miúdo.

É muito honesto, verdadeiro, uma qualidade que o torna excecionalmente atraente. É honesta a  forma como fala de depressões, das pancadas que cada pessoa acha que lhe são únicas mas que na verdade toda a gente tem de uma forma ou de outra, do quão difícil e dolorosa a vida pode ser mesmo quando não há razão aparente para isso. E enquanto leitores é inevitável identificarmo-nos com uma ou outra coisa, o que nos obriga a ligarmo-nos ao romance rapidamente. No fundo todos os romances tratam de uma forma ou de outra de emoções, e este fá-lo bem e nunca exageradamente.

Por vezes não é clara a razão pela qual certas passagens surgem um bocado descontextualizadamente. Mas acabam por encaixar na narrativa. Também há personagens que são pouco desenvolvidas, ou que o são só em alturas em que talvez fossem convenientes para o desenrolar da história, e isso nota-se um bocado. Mas talvez faça parte do estilo do autor? Não que eu perceba alguma coisa de literatura…

Acaba tudo bem, facto com o qual se pode argumentar que o romance perde um bocado da ‘personalidade’ que sempre exibe, uma atitude de ‘a vida é merdosa – lidem com isso’. Mas também é verdade que o leitor fica ‘satisfeito’ por tudo ter tido a sua devida conclusão. E isso provavelmente vale a pena.

domingo, 7 de outubro de 2012

Cartazes e panfletos em São Tomé

Já passou algum tempo desde que voltei de São Tomé e Príncipe, mas deixo aqui os últimos cartazes q panfletos que fiz lá. Os dois primeiros são cartazes que serviram para divulgar dois dos nossos últios eventos - um speedmeeting de empreendedores Santomenses, onde eles puderam partilhar as suas experiências (e alguns deles eram muito inspiradores); e um encontro de voluntários portuguese e santomenses realizado com o apoio da embaixada Portuguesa, onde juntámos várias organizações para partilhas as experiências pessoas e debater sobre o voluntariado no país.

Os outros trabalhos foram realizados com a Flávia Tomé, outra voluntária, formada em comunicação, com quem trabalhei em alguns projetos. São panfletos para promover dois negócios que um lar de idosos da Santa Casa tem, com a finalidade de angariar receitas para sustentar o lar. Achámos que os panfletos deles estavam um bocado desatualizados e como tal decidimos substituí-los.

Espero que gostem.








terça-feira, 17 de julho de 2012

Seminário de Gestão e Empreendedorismo em São Tomé

Estou em São Tomé a fazer voluntariado no programa Rumos da Associação Humanitária para a Educação e Desenvolvimento, a AHEAD. Somos 6 voluntários, e para além de fazermos atividades e formações na comunidade em que estamos inseridos, Ribeira Afonso, e de ajudarmos a desenvolver as várias instituições da Santa Casa da Misericórdia, a organização que nos deu casa e com quem trabalhamos mais de perto, vamos ainda dar 4 seminários de variados temas no Hotel Pestana Miramar. O primeiro é o meu, que vai ser de Gestão e Empreendedorismo. O objectivo é promover o auto-emprego e a capacidade da população de satisfazer necessidades enquanto se aproveitam oportunidades de negócio. Será uma parceria com as associações MOVE Microcrédito e WACT. Aqui fica o cartaz que fiz (na verdade na divulgação só se utilizou uma versão a preto e branco, para reduzir os custos...).




domingo, 17 de junho de 2012

Exposição sardinhas Festas de Lisboa

As sardinhas já estão expostas no Millennium BCP da Rua Augusta.




quinta-feira, 5 de abril de 2012

Posters Workshop de Retórica

Recentemente o NOVA Debate Club, a que pertenço,pediu aos membros para fazerem o cartaz para um Workshop de Retórica do próximo dia 18. Decidi oferecer-me e propus estes 3. O escolhido foi o 1º.

A figura representada é Empédocles, que se diz (leia-se "que a Wikipédia diz") ser o pai da retórica.


Estes 2 últimos têm os dados mal porque depois de não serem escolhidos não me dei ao trabalho de os actualizar, mas suponho que isso seja indiferente...




quinta-feira, 22 de março de 2012

Sardinha para Festas de Lisboa 2012

  Foi esta a proposta que enviei para as Festas de Lisboa 2012. Todos os anos a organização das festas abre um concurso para se desenhar as sardinhas que irão promovê-las, e há sempre propostas muito boas. Este ano decidi participar também...

UPDATE: A minha sardinha foi a 3ª mais votada nas escolhidas para o Facebook! Não ganhei mas já acho que foi muito bom, obrigado a todos os que votaram.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011