Acabei agora de ler o livro 'So Good they can't ignore you'.
É muito bom, e apesar de não estar excelentemente (esta palavra existe?) escrito,
não está nada mau. Posso estar mal habituado, mas não se compara a um 4 Hour
Work Week do Timothy Ferriss ou ao Thinking, Fast and Slow, do Kahneman, em termos da forma como
cativa o leitor.
Já sigo o blog do autor há algum tempo, o
Study Hacks, e
apesar de por vezes não ser fácil seguir os raciocínios dele por serem pouco
convencionais e nem sempre explicados em detalhe, se dermos o tempo necessário
para nos habituarmos à sua forma de pensar há perspetivas valiosas a tirar do
que ele escreve.
Divide o livro em quatro 'regras':
1. "Don't Follow Your Passion" - sobre como toda a cultura de identificar
uma paixão e segui-la profissionalmente é utópica e só leva a uma corrente de
insatisfações profissionais;
2. "Be So Good They Can't Ignore You" - sobre como
o segredo para a satisfação e obter controlo sobre a carreira é simplesmente
ficar cada vez melhor, ao ponto de termos algo (habilidades) valioso que os
outros queiram e pelo que estejam dispostos a pagar - aquilo a que chama
"capital de carreira";
3. "Turn Down a Promotion" - sobre como obter
controlo sobre o que se faz, como e quando se faz é chave para uma carreira em
que as realizações pessoais sejam atingíveis - o que só é possível com o
"capital de carreira" a que se refere a regra 2;
4. " Think Small, Act Big" - em que afirma que o
elo que liga os pequenos passos de uma carreira é um sentido de missão. Um
determinado objetivo a atingir com os esforços de carreira, que serve de fundo
às decisões e que tem uma função motivante, de certa forma. Newport afirma que
este missão não se decide, mas antes descobre-se ao longo da carreira.
As ideias do livro fazem todo o sentido. Basicamente, Newport apela a que se pare de proclamar a ideia de que as pessoas devem
"seguir a sua paixão" e a que simplesmente se dediquem a fazer aquilo que
têm em mãos da melhor maneira possível, pois assumir que todos temos uma paixão
bem definida desde cedo e realizável profissionalmente é uma utopia; e depois
estabelece várias características para uma carreira bem-sucedida e satisfatória.
É um incentivo ao trabalho, a que se pare de sonhar e divagar sobre empregos e
ocupações mágicas, ideais, e que se faça por ser o melhor possível nas tarefas
que se tem em mãos, deixando o resto vir mais ou menos naturalmente.
Ao longo do livro são expostas várias máximas que resumem
sucintamente as mensagens dos capítulos. Algumas das minhas preferidas são
"Do what people are willing to pay for" (faz coisas pelas quais as
pessoas estejam dispostas a pagar), que reconheço ser uma eficaz e mesmo
excelente maneira de ver aquilo que uma sociedade realmente valoriza, e que vai
possibilitar um sustento; e "Working right trumps finding the right
work" (trabalhar bem é melhor que procurar o trabalho ideal) - esta podia
ser o resumo do livro numa frase, e representa uma ética de trabalho patente ao
longo de todo o livro que considero admirável e valiosa. E certamente em falta
em mim, em muitos da minha geração e eu diria mesmo em Portugal, se não no
mundo ocidental...
Pode-se apontar, no entanto, que o autor nunca toma uma
posição muito clara em relação ao quão diferentes podem ser as ideias que as
pessoas têm de paixão, e sobre quando se deve ou não questionar as opções de
carreira: Por um lado diz que não vale a pena estarmos constantemente a
questionar-mo-nos sobre qual é a nossa verdadeira 'vocação', mas por outro fala
de casos de pessoas que fizeram mudanças de carreira com sucesso, e identifica
os passos tomados que ajudaram a atingir esse sucesso na mudança. Claro que as
duas são compatíveis, mas penso que seria bom que o autor discorresse um pouco
mais sobre quando vale ou não a pena questionar-mo-nos sobre se estamos a
seguir o caminho certo.
Para primeiro livro, foi uma estreia impressionante.
Excelentes ideias e audacioso no sentido de ir realmente contra aquilo que é o
"culto da paixão" que tantas dúvidas existenciais causa a tanta gente,
mas que é tão confortável de manter.